13/05/2009

Grupo entrevista o jornalista Erich Vallim Vicente

O editor-chefe do Jornal A Tribuna Piracicabana Erich Vallim Vicente é entrevistado pelo grupo A Terceira Onda: "Uma das dificuldades encontrada quase que diariamente é que temos sempre assuntos demais para os leitores e espaço de menos". Acompanhe a entrevista completa abaixo.


Piracicaba, 07 de Maio de 2009

Em visita ao Jornal A Tribuna Piracicabana, o grupo A Terceira Onda contou com a colaboração do jornalista e editor-chefe Erich Vallim Vicente, que nos falou como um jornal é feito antes de ser impresso. Destacou dificuldades encontradas para obter as notícias, falou sobre a forma ética e profissional que o jornal tem como responsabilidade perante o seu publico e com seus próprios ideais e princípios.

Erich Vallim Vicente, 27, jornalista, editor-chefe do jornal A Tribuna Piracicabana, é formado na Faculdade de Comunicação da Unimep, em 2003, estudou também na Pós-Graduação da Cásper Líbero em Comunicação Jornalística. O jornalista teve um começo bastante diversificado, atuou como entregador do jornal, passando pela função de office boy e pela diagramação. Quando ingressou na faculdade, trabalhou como fotógrafo e, no seu segundo ano de faculdade, partiu para a reportagem. Dois anos após concluir o curso, assumiu o cargo que exerce até hoje. Sua equipe conta com sete jornalistas.

A Terceira Onda: Erich, qual sua rotina de trabalho no jornal?
O início do meu trabalho no jornal se dá às 13 horas. Normalmente inicio vendo a mídia em geral e faço a leitura dos três jornais da cidade para saber o que foi publicado, dando inicio ao trabalho das pautas de assuntos da cidade que será definido junto à equipe no período da tarde. As pautas de Cultura e Esporte, no entanto, são responsabilidades do próprio repórter. Seleciono as matérias fornecidas pela Agencia Estado, mais ligadas ao cenário de entretenimento global, esporte nacional, crítica de cinema, entre outros.

Existe uma atenção sobre o perfil do leitor do jornal? Você conseguiu perceber esse perfil, trabalha focado nele?
Sim, temos e nos atentamos a ele, sabemos que nossos leitores são pessoas de meia idade e de conhecimento intelectual político e cultural; temos que seguir esse perfil nas informações até porque eles representam 90% dos leitores e são assinantes.

Você pode citar alguns pontos de dificuldades na hora de fazer a seleção das matérias, por exemplo?
Uma das dificuldades encontradas quase que diariamente é a que temos sempre assuntos demais para os leitores e espaço de menos; outra é a quantidade de informação na internet, isso faz com que tenhamos que nos atentar com responsabilidade ao que vai ser publicado, temos que ser racionais, e saber a melhor forma de aproveitar o espaço físico; tem que ser matemático, o ser “matemático” é delicado e requer muita atenção, cortar caracteres não significa que a notícia vai ser mal transmitida. É complexo e tem que ser feito, sem os “tiranos” da edição, como somos chamados às vezes, o jornal pode pecar na perda do espaço, pois os assuntos são diversos e temos que distribuir esse espaço com cuidado, sempre. A negociação com fontes também é difícil, às vezes são feitas exigências que o jornal não pode cumprir.

Pode citar uma dessas exigências?
Sim, o direcionamento de matéria é um exemplo.

Sobre desafios, o jornalismo conta com vários, entre eles o de pensar no interesse público, e em como preencher essa lacuna. Como você trabalha essa questão?
Nesse caso tomamos cuidado para que não sejam colocadas notícias que não estejam dentro dos parâmetros do interesse dos leitores de Piracicaba. É um cuidado importante. Não adianta o jornal ficar enchendo espaço com notícias de cidades da região que não sejam de interesse local. Outro cuidado é o de não repetir as notícias que são produzidas pela nossa redação; se levantamos um assunto damos tempo para ele se desenvolver para depois retomar a discussão. Não fazemos repetições exageradas sobre o assunto, essa repetição fere o que é de interesse público.
As notícias na área de segurança pública que levantamos tem atenção ao que se refere a interesse público e ao interesse particular também, por exemplo, temos na cidade um caso de discussão sobre o complexo penitenciário, no qual envolve o interesse particular e o interesse público, temos famílias com presos em cidades bastante distantes que procuram soluções para isso tentando trazer o detento para a cidade de origem, e temos o fator de que o complexo está construído em um local de patrimônio publico e ambiental, e que está idealizado sem uma discussão pública sobre a construção. É assim que trabalhamos, mostrando os interesses de forma que a sociedade possa criar uma opinião a respeito.

Informar ao público questões de interesse público que não são discutidas junto à sociedade, como essa do presídio e outras que envolvem políticos e órgãos públicos trazem complicações ao jornal?
É um assunto bastante complexo e delicado, já escrevemos sobre assuntos que nos rendeu telefonemas com ameaças de processos, mas não fomos processados.


Internet. Notícias rápidas, diversidade de assuntos, facilidade de escolha do que se quer ler, isso atrapalha o impresso, deixa em cheque o clássico momento de pegar e ler o jornal página por página. Qual o impacto que esse veículo tem no jornalismo? Como você se relaciona com a internet?
Em 1996 (ou 1997, não me recordo), fiz minha primeira assinatura na internet, por curiosidade, desde então nunca deixei de lado. A internet foi um impacto na sociedade em geral e não só para o jornalismo; a internet mudou a visão sobre as mídias tradicionais, como o jornal impresso. Acredito que o impresso não está ameaçado pela internet, existem pontos que favorecem o jornal on-line, como as diferenças de política e radiodifusão no Brasil, que é pautada dentro de uma política de nação, as empresas de comunicação não podem ter mais de 30% do capital dela estrangeiro enquanto o meio online que também é um meio de radiodifusão não tem essa regra aplicada, esse é um ponto que será discutido muito ainda. Acredito que há muito a acontecer em relação a esse tema internet versus mídias tradicionais.

Como você define a formação de um jornalista?
Ela tem que se dá a partir da formação pessoal do individuo, ele (a) tem que ter entendimento da sociedade em que vive, saber sobre o mecanismo dela e como ela funciona, saber como é organizada essa democracia que a envolve, entender dos poderes, terem uma visão ampla de todos os assuntos e conhecimentos amplos também, é esse o perfil de uma formação jornalística e de qualquer outra profissão. Estar envolvido em novos conhecimentos é necessário para qualquer formação.

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